Saudade é o que eu mais tenho sentido.
Saudade de mim quando criança irresponsável e sem hora de tomar banho. Da menina que mais parecia um moleque correndo na rua, brincando de esconde-esconde.
Saudade de conversar com ele e ouvir seus conselhos que eram únicos, duros e irredutíveis. De ouvir suas brincadeiras e sua risada escancarada. Suas histórias cheias de minúcias, aventuras e desordem juvenil.
Saudade da minha mãe quando eu me machucava na escola e rasgava a calça que ela insistia em mandar cerzir.
Saudade de ir comer doce com minha vó. Quando eu era menor (porque eu ainda sou pequena) ela me levava pra comer doce na praça. O gosto do que comíamos e o nome do lugar eu não me lembro. Ela me conta em detalhes e eu acredito no quanto aqueles momentos eram ótimos.
Saudade de brincar de pega-pega e de contar segredinhos antes de dormir pra minha irmã.
Dizer saudade é tão grande, tão profundo e tão intenso que já dói. Sentir então acaba fazendo o peito pulsar em desalinho e desacordo. Faz o corpo tremer a falta e alma decorar o rosto do retrato pra tentar ficar mais fácil.
Eu tenho amigos antigos, atuais, alguns de ontem e até aqueles que eu ainda nem conheço, mas que só de saber que estão no meu caminho já me fazem feliz.
Todos têm seu sabor, seu tempero, seu cheiro que me fazem alguém, me fazem pensar, me fazem amar e me fazem acreditar na vida. Eles tornam o sorriso mais leve e o olhar deslavado pra cantar pro mundo, pra lua e pras estrelas que estamos vivos e que essa história é uma só, até quando surgirem as próximas.
Essa saudade me sussurra a fugir do escritório, roubar a chave do caminhão e sair pela cidade colocando um a um ali dentro, da mesma forma que habitam meu coração.
Dizer a todos que os adoro, respeito e admiro. E dar um beijo amarrado num abraço apertado sem medo, sem traço e com o melhor laço que a vida já inventou.
Saudades de todos aqueles que levaram um pouco de mim e que me deixaram a outra parte preenchida pelo seu carinho.